Autora: Dra. Marjorie Paris Colombini, MD, PhD
Médica Patologista Clínica, especialista na área da Hemostasia Laboratorial
A trombose não é uma condição infrequente. Ela acontece quando há a formação de um coágulo dentro do vaso sanguíneo, obstruindo o fluxo do sangue e ocasionando vários problemas. Entenda melhor por que esses coágulos se formam, quais os seus tipos e como tratar a trombose.
O que é trombose?
Primeiramente, é preciso entender que, fisiologicamente, o sangue tem que circular no sistema vascular em sua forma líquida. Para isso, inúmeros componentes celulares do sangue, do vaso e proteínas plasmáticas da coagulação trabalham em conjunto.
Quando ocorre uma lesão de continuidade no vaso, por exemplo, tudo acontece para que a lesão seja resolvida localmente e que não haja perda sanguínea anormal. Assim, irá haver a formação de um trombo/coágulo no local do vaso afetado, o que é desejado para que o sangramento seja controlado.
Quando há um desequilíbrio entre os componentes que fazem o sangue circular na forma líquida e aqueles que produzem a formação do coágulo (trombo), a trombose se estabelece.
Trombose nada mais é do que a obstrução do fluxo sanguíneo em um determinado órgão ou local, fazendo com que o suprimento de oxigênio seja interrompido, levando ao infarto do órgão ou local acometido.
Quais são os tipos de trombose?
A trombose pode ocorrer em vasos de qualquer calibre, tanto no território venoso, como arterial. Por exemplo, no infarto agudo do miocárdio ocorre a obstrução das artérias coronarianas, ou seja, há a formação do trombo ou coágulo dentro da artéria e o local irrigado por essa artéria fica sem suprimento e sem oxigênio, podendo causar infarto.
Se o mesmo ocorrer no sistema nervoso central, teremos a manifestação do acidente vascular cerebral isquêmico (derrame).
Quando ocorre no território venoso, o mais comum é a trombose dos membros inferiores, conhecida como trombose venosa profunda (TVP), mas qualquer outra veia pode ser acometida pela obstrução de um trombo, por exemplo, veia hepática, renal, esplênica, subclávia, entre outras.
Quais são os fatores de risco para trombose?
Os eventos trombóticos podem ser adquiridos ou hereditários. Os adquiridos acometem geralmente:
- Indivíduos mais idosos;
- Pacientes acamados por maiores períodos, ou seja, imobilizados;
- Após algum trauma no vaso;
- Indivíduos com câncer, onde as substâncias do sangue envolvidas na formação do trombo são liberadas na circulação ativando a formação dos coágulos;
- Doenças onde a viscosidade do sangue aumenta.
Por outro lado, quando existe alguma deficiência genética (herança familiar) nas proteínas que controlam a formação dos coágulos ou que são incumbidas de digerir o coágulo, a trombose pode se expressar desde a infância.
Quais são as causas da trombose?
Conforme comentado acima, são inúmeras as causas que favorecem o aparecimento das tromboses. As mais comuns acometem pacientes submetidos a longos períodos de imobilidade (maior lentidão do fluxo sanguíneo), em especial, os mais idosos; nas condições em que há aumento da viscosidade do sangue por aumento da contagem das hemácias ou dos leucócitos ou das plaquetas; nos diferentes tipos de câncer; na gestação e/ou período do puerpério, por exemplo.
E também quando há as mutações relacionadas as proteínas que controlam a formação do coágulo, por exemplo:
- Deficiências da antitrombina, proteína C e S, entre outras;
- Aumento da concentração plasmática de alguns fatores de coagulação, tipo fator VIII;
- Deficiência das proteínas encarregadas de digerir o coágulo, denominadas fibrinolíticas, como o ativador do plasminogênio tecidual, a plasmina, entre outras.
Quais são os sintomas de trombose na perna?
Normalmente, a perna acometida fica com maior volume, empastada ou inchada, podendo ou não ter dor, com ou sem rigidez à movimentação da panturrilha. Nem sempre ocorre vermelhidão da pele.
Em alguns casos, podem aparecer “varizes” devido a dilatação dos trechos contíguos ao local da obstrução. No entanto, existem casos em que esses sintomas não ocorrem.
Trombose na perna é grave?
A trombose dos membros inferiores (TVP) deverá ser diagnosticada e tratada para que seja evitada sua complicação mais grave, o tromboembolismo pulmonar, que é quando o coágulo se desprende e “viaja” até os vasos pulmonares (artéria pulmonar), causando obstrução parcial ou total e, consequentemente o infarto pulmonar.
Tardiamente, como complicação mais frequente da TVP, pode ocorrer a insuficiência venosa crônica.
Como é feito o diagnóstico da trombose?
O diagnóstico da trombose inclui o diagnóstico clínico, por imagem e o laboratorial.
Existem vários sistemas de pontuação (escores clínicos) para classificar os pacientes que se apresentam nos serviços de emergência com suspeita de trombose, visando verificar quem deverá fazer o estudo por imagem e laboratorial.
Exames para trombose
Em relação ao diagnóstico por imagem, são os mais utilizados:
- Ultrassonografia eco doppler colorida dos membros inferiores, na suspeita da Trombose Venosa Profunda, ou na suspeita da trombose hepática, renal, por exemplo;
- Cintilografia ventilação-perfusão, angiografia pulmonar e tomografia computadorizada helicoidal na suspeita do tromboembolismo pulmonar (TEP);
- Angiografia cerebral na suspeita do AVC isquêmico;
- Ressonância magnética cardíaca ou a tomografia computadorizada do coração na suspeita do infarto agudo do miocárdio.
- O laboratório pode contribuir na exclusão da suspeita de trombose em pacientes com baixa probabilidade clínica pré-teste através da realização do teste denominado Dímero D, onde valores normais excluem a possibilidade da trombose.
Quando há história familiar de trombose e a idade acometida for mais jovem (abaixo de 40/45 anos) e dependendo da condição desencadeante associada, um estudo dos principais marcadores genéticos poderá ser realizado após a fase aguda da trombose e ao término do tratamento.
Tratamento
Quando for constatado o evento trombótico, independente da causa, o tratamento é feito com os anticoagulantes parenterais, em especial, as heparinas não fracionada e de baixo peso molecular em dose terapêutica, seguida dos anticoagulantes orais ou os orais de ação direta, na dosagem e tempo determinados pelo médico do paciente.